Mapa Compromisso

Carta-compromisso

Em conclusão ao Colóquio Patrimônios Histórico-Sonoros do Gualaxo do Norte, elencamos como pontos propositivos a atuações futuras, indicados no diálogo das rodas de conversa:

1. Abordagem teórico-política:

a) Atenção conferida ao acionamento da imaginação, das sensibilidades estéticas, das sensorialidades/corporeidades, entendidas como instâncias propiciadoras de um saber-fazer alternativo.

b) Promoção de tais acionamentos em uma explícita contestação ao racismo e a todas as outras práticas de discriminação e exclusão, bem como do silenciamento pedagógico (e aos demais silenciamentos acadêmicos e midiáticos, ou mesmo dos engodos propositalmente veiculados) sobre as ambiguidades, os conflitos e as devastadoras consequências socioambientais, culturais e ético-políticas de uma economia pautada em commodities (como a mineração em larga escala e o agronegócio).

2. Repertório de conceitos:

a) Identificação e interpretação (impreterivelmente dialógica) das sonoridades com as diferentes “culturas do passado” e memórias das comunidades atingidas pela queda da Barragem do Fundão (ribeirinhas, bordadeiras e outros tantos artesãos, praticantes de uma agricultura familiar…).

b) Estabelecimento de interfaces desses conceitos com os de territorialidades e ambiências, na busca pela transposição de dualismos (como cultura/natureza) que tornam a alteridade um objeto.

c) Emprego deste aporte conceitual para retomada de reivindicações já apresentadas à sociedade e aos poderes públicos (como a constituição do Museu do Território em Bento Rodrigues) ou a postulação de novas demandas, (tais como a elaboração de dossiês patrimoniais sobre os demais povoados atingidos, a liberação de financiamento para assessorias dos atingidos e para projetos de arte-educação em perspectiva intercultural). Trata-se de projetos que, uma vez empreendidos, irão nortear ações voltadas para a justiça social e uma configuração político-econômica do comum e do público.

3. Metodologias:

a) Insistência em uma abertura político-existencial às afetações sonoras provindas do entorno socioambiental do Gualaxo do Norte, na disposição à experiência de sermos “seres escutantes”.

b) Destaque à relevância do processo, do “cartografar” como deriva e encontro e não como produto.

c) Recurso à história oral e à elaboração de biografias de sujeitos de segmentos sociais espoliados da dignidade de seu saber e de seu viver, e assim reforçando as narrativas e demandas comunitárias.

d) Atenção à crítica das imagens (e de outras linguagens) que operam de forma depreciativa quanto à presença e atuações que não são socialmente hegemônicas (reforçando assim violências simbólicas e físicas).

e) Reemprego da arte (imagens, design, poesia, música…) em favor do performar uma re-existência do “bem-viver”.

f) Necessidade (e mesmo urgência) do “estar junto”, em imersões que gerem relacionamentos interpessoais, a elaboração de uma pauta político-social comum e mobilizações “barulhentas” a favor delas.

g) Convite a que mestres comunitários possam contribuir com a formação de distintos grupos educacionais, lecionando de forma compartilhada em vários níveis de ensino, inclusive o superior.

4. Ética e intersubjetividade:

a) Estabelecimento de redes de diálogo crítico e apoio político, preferencialmente de caráter interinstitucional, que parta do pressuposto do protagonismo dos atingidos e atingidas pela queda da Barragem do Fundão na formulação do endosso dos projetos daí advindos.