Apresentação

GUALAXO VIVO

O rio Gualaxo do Norte localiza-se ao norte do município de Mariana, estado de Minas Gerais. Seu curso já era conhecido desde os primeiros tempos da colonização da região, ao final do século XVII, devido à extração de ouro que logo veio a ser realizada em seu leito e nas montanhas ao redor. Em paralelo, nas proximidades do rio, foram sendo fundados povoados, alguns dos quais perduram até a contemporaneidade, como Camargos, Bento Rodrigues, Bicas, Ponte do Gama, Borba, Pedras, Paracatu de Cima, Paracatu de Baixo, Campinas. Após percorrer Mariana, o rio Gualaxo do Norte adentra no município de Barra Longa, passando pelos povoados de Barretos e de Gesteira, até atingir a sede urbana e confluir com o rio Gualaxo do Sul. Os dois Gualaxos unem-se então ao ribeirão do Carmo, que quilômetros abaixo junta-se ao rio Piranga para formar o rio Doce.
Em 5 de novembro de 2015, uma irreparável experiência de destruição foi provocada pelo rompimento da Barragem de Fundão, localizada em um dos afluentes do rio Gualaxo do Norte. Quando esta estrutura de contenção de rejeitos de minérios, de propriedade da mineradora Samarco S.A. (atualmente controlada pelas empresas Vale e BHP Billiton), veio a ruir, milhares de toneladas de lama contaminada foram derramadas nesse rio. Com isso, foram soterradas as comunidades de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Gesteira, 19 pessoas morreram, várias centenas ficaram desalojadas, danos gravíssimos foram sofridos pelo meio-ambiente.
Com o propósito de contribuir com o reconhecimento do patrimônio material e intangível dessa região, especialmente no campo das sonoridades, decidimos participar da Chamada Pública FAPEMIG 09/2018, relativa ao financiamento de projetos de pesquisa aplicada voltados ao desenvolvimento e recuperação das áreas impactadas pela queda da Barragem. Os recursos destinados a esta Chamada foram previstos no Termo de Transação de Ajustamento de Conduta (TTAC) assinado na Justiça pela Samarco. Em novembro de 2020, o financiamento foi liberado pela parceria firmada entre a FAPEMIG e a Fundação Renova (instância criada para operacionalizar os ressarcimentos e a reparação dos danos). A partir de então, o projeto pôde ser iniciado, tendo sua realização prevista para 24 meses e veiculação promovida através desta plataforma digital, na qual iremos compartilhar distintas produções: cartografias histórico-sensoriais, performances histórico-musicais e propostas de práticas pedagógicas, subsidiadas por material e roteiro didáticos. Dessa maneira, embora as menções à queda da Barragem de Fundão possam nos remeter a sofridas dimensões de perda, desejamos que nossa pesquisa possa favorecer à transposição dessa ausência em tenaz resistência, sobretudo por parte das comunidades afetadas, no tocante à reivindicação de seus direitos, assim como à abertura a novas experiências, a partir das memórias sonoras do que por elas foi vivido e sonhado. Justamente por isso, escolhemos renomear este projeto de GUALAXO VIVO!

Dados institucionais:
Nome do projeto: “Cartografias Histórico-Sensoriais de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Gesteira”
Processo Fapemig n. APQ-05426-18